Pedro Cavalheiro é o autor destes dois lindíssimos livros.
Ouvi
falar deles há muitos anos mas só há uns meses andam por aqui. Na feira
de livros manuseados havia muitos (sem serem manuseados) e muito
baratos, mas nunca os vi expostos numa livraria. Talvez seja porque as
encadernações não são excepcionais mas cheira-me a desinteresse ou
ignorância dos livreiros. Ou então sou só eu e mais uns loucos que
achamos estes livros lindos.
Depois da febre dos números, que se mantém forte, chegou a das letras e lá veio a Isaurinha para ensinar.
Isaurinha ensina a ler
é um livro onde, em cada duas páginas, Isaurinha — com a ajuda do
Eugénio, do António, do polícia, do macaco e das bonecas — ensina que as
palavras são compostas por letras e que estas se repetem em diferentes
palavras .
A aparência dos livros é desconcertante, à primeira vista, porque a data da publicação parece estar errada.
As ilustrações têm um ar antigo e os temas são de um incrível humor pelo seu
desajuste
(chamemos-lhe assim) em relação à suposta linguagem e universo
infantis, seja lá o que isso for.* Estes livros ensinam coisas
extraordinárias a meninos que, de outro modo, nunca (ou só muito mais
tarde) saberiam como são as berlindas, otelo ou o ciclope polifemo.
Só mais tarde, quando lemos Os brinquedos do meu avô percebemos o porquê deste ar retro:
Numa série de BDs de 2 ou 3 páginas o autor conta,
em verso,
as aventuras dos brinquedos e dos avós, agora todos personagens de um mesmo universo.
A histórias não têm título, ou melhor, todas se chamam Os brinquedos do meu avô.
Por cá, esse facto foi algo desconcertante mas o caso resolveu-se:
agora cada história tem o nosso próprio título dado após a primeira
leitura!
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Isaurinha ensina a ler
Editora Terramar, 1997
Pedro Cavalheiro
isbn 9789727101849
primeiro visto aqui
comprado aqui
Os brinquedos do meu avô
Editora Terramar, 1996
Pedro Cavalheiro
isbn 9789727101528
primeiro visto aqui
comprado aqui
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1. prémio nacional de ilustração: vencedores!
2. há que começar a preparar a ida à feira do livro (começa amanhã): conselhos úteis aqui.
3. a minha lista de livros (que existem em Portugal) para a feira, na esperança de que estejam, de facto, a preço de feira:
-A grande questão
-Where the wild things are
-A casa de férias
-Dança quando chegares ao fim
-Sorrisos
-O livro dos opostos filosóficos
-todos os da Rebecca Dautremer
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*Tenho um problema em relação ao chamado universo infantil;
a música infantil, por exemplo. Música é música. Parece-me bizarro que
uma mãe, que quando fica grávida ouve música clássica porque sabe que
estimula as ligações no cérebro do bebé e que mantém o óptimo hábito
depois da criança nascer, a uma certa altura - não sei porquê - passe a
expôr o filho a música infantil de qualidade inenarrável. Além do Bom dia, Benjamim!
que comprei pela coincidência do nome e que tem uma das mais bonitas
canções de embalar portuguesas (diga-se, no entanto, em abono da verdade
que também tem por lá umas vozes pseudo-infantis insuportáveis) a
última vez que comprei um livro-cd de qualidade um bocadinho superior ao
comum, devolvi-o no próprio dia.
Confesso que aqui se ouviu mais
música clássica do que era costume enquanto estive grávida mas continuou
a ouvir-se de tudo; e continua.
É certo que isso leva a que as crianças andem a cantar refrões tão inusitados como "a Base da baía de Guantánamo" do último Caetano, ou que imitem guitarras eléctricas enquanto gritam no carro "out of Cape Cod tonight" dos Vampire Weekend ou que, no colégio onde andam, o disco do Pai e do Tomás-grande esteja no top (junto com a Cantata
da qual só sei um verso que é repetido até à exaustão) e os meninos
digam coisas como "calçada do combro vou morder-te o ombro" ou "anda ver
se chove, fumar um cigarro". E não será à toa que, interrogado sobre
que instrumento gostaria de aprender, o mais velho responda trompete ou
saxofone inspirado, com certeza, pelo muito Miles Davis
que ouviu no berço o que leva a que depois se tenha que explicar que a
sua caixa de ar terá que, para isso, crescer mais um pouco...
Mesmo assim, e se está provado que devemos falar com a criança utilizando um vocabulário rico e variado para que venha ela própria a ter um vocabulário rico e variado, não é a música também linguagem e não será pouco ficarmos pel'A loja do mestre André?
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