Há livros que dão filmes e até filmes que dão livros.
Imagem é o caso dum poema que deu uma canção, depois um vídeo-arte e agora um álbum ilustrado.
Yara Kono, a portuguesíssima nipo-brasileira, tomou coragem para dar mais uma volta a estas palavras do seu compatriota Arnaldo Antunes. É obra.
Por aqui somos fãs do Arnaldo. Caetano entrou-me pela vida ali à roda dos meus sweet sixteen e nunca mais saiu. No outro dia, pela rua, o R cantava Come prima/Piu di prima/T'amero; quando lhe perguntei onde tinha ouvido aquilo disse-me com ar chocado: Mãe, é Caetano!?... Eu sabia que era Caetano (ou que o Caetano canta este clássico italiano), mas não me lembrava de ter ouvido recentemente. Depois quis saber se tinha boa pronúncia italiana, ao que assenti, e lá seguimos rua abaixo.
Mas se pai é Caetano, Arnaldo é uma espécie de primo de voz cavernosa que diz palavras verdadeiras e difíceis, montando-as como se fossem escultura. Gostamos de ouvir e de cantar Na massa — é power music para acordar de manhã!
Nesta Imagem, Arnaldo elenca muitas formas de ver: avistar, assistir, contemplar, fitar, examinar, notar, admirar, observar, vislumbrar e emparelha-as com coisas do mundo. Yara diverte-se a jogar este jogo duplamente duplo, de nome/verbo e de palavra/imagem. E tudo feito com um imensa simplicidade e economia de cores e de formas (mais uma dupla!) que nada tem a ver com algumas ilustrações também simples e económicas mas que, por vezes, parecem feitas de plástico, sem vida.
Estes desenhos parecem sujos, gastos, com a quadrícula que os organiza aqui e ali a querer aparecer, sem vergonha.
É a segunda música que a Planeta Tangerina trás ao mundo dos livros. Este livro é preciso ouvir e ver para crer.
Não basta olhar.
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Imagem
Planeta Tangerina, 2016
Arnaldo Antunes texto, Yara Kono ilustrações
isbn 9789898145734
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