Estivemos durante alguns meses a convencer o B das vantagens de aprender Francês. Ao longo a vida, tem-me dado imenso jeito ter essa ferramenta por isso achei que devia insistir nesta opção. Os seus contra-argumentos na defesa do Espanhol, eram bastante válidos, por isso deu bastante trabalho insistir nisto, mas parece-me uma oportunidade única de poder, mais tarde, chegar a uma cultura e a várias partes do mundo que, de outra maneira, ficaram encerradas numa espécie de surdez.
O grupo de alunos que acompanhei a França, era um grupo que tinha tido, na sua maioria Espanhol, e como se arrependiam, agora, de ter ido pela via mais fácil, muitas vezes ao engano.
É certo que o Espanhol é importantíssimo, lindíssimo, falado por todo o mundo (os argumentos dele), mas também é verdade que nós portugueses temos uma facilidade incrível em perceber e arranhar a língua. E se for preciso aprender a sério, fá-lo-emos rapidamente. Já o francês...
À medida que o tempo passa vamos tentando equilibrar as escolhas que damos aos miúdos. Há coisas simples, porque é claro que não os podemos deixar escolher mexer na ficha elétrica quando começam a gatinhar, ou a escolherem a hora de se irem deitar quando não querem que o dia acabe. Quando começam os TPC, temos de começar a passar-lhes a bola da responsabilidade e da escolha; o se não fizerem depois falam com a professora funcionou bem aqui por casa.
E agora que surge uma opção na escola, onde já tem quase total autonomia, muitos pais destes tweenies deixam-nos mesmo escolher o que eles querem, porque faz sentido. Mas porque é que eles querem realmente? Porque os amigos querem, porque o Francês é uma língua assim meio de velhos, porque há mais músicas fixes em Espanhol, porque julgam que é mais fácil.
A hipótese de escolher por ele, assim sem mais, seria um tiro no pé, sei disso; então escolhemos a via que dá trabalho, que foi discutir com ele argumentos e contra argumentos até que, na hora da opção, ele assentiu sem drama na escolha, porque era conjunta, fazia sentido e, finalmente, pacífica.
E afinal de contas a maioria dos amigos até escolheu francês.
Este é um livro adiado na prateleira há mais de dois anos, vindo duma belíssima viagem a Paris. Os livros de Blexbolex são dos meus preferidos e já aqui e aqui mostrei duas pérolas. Este Romance é particularmente magnifique e difícil, não só porque é em francês (!), mas porque a sua construção não é nada simples ou linear. Mesmo assim, mal o vi na prateleira da livraria, soube que era este que viria para a nossa prateleira de baixo:
uma espécie de balada, uma história infinita, que contém nela todas as personagens que as histórias têm de ter, mas também espaço para ser o leitor a completá-la, a invertê-la, a escrevê-la.
Blexbolex conta que preparou dois fundos à mão e que depois trabalhou os desenhos no computador durante muito tempo, demasiado tempo — as suas lutas com o conceito e construção do livro, problemas prosaicos e gigantes da sobrevivência económica que acontece a todos os que insistem em fazer o que gostam a todo o custo). Diz que o processo levou tanto tempo que até os seus desenhos começaram a mudar e que, por isso, teve de regressar a esboços antigos para conseguir dar unidade ao todo.
Pois bem, para o ano por esta altura passarei o Romance ao B e espero ficar surpreendida (como fico este ano com o Inglês) com o que sabe da língua. Mas isso não invalida que seja um crime — sim, um crime! — não haver um livro que seja deste autor em Portugal. Salvam-nos a honra os nossos irmãos brasileiros da belíssima mas agora extinta Cosac Naify. Alguém tem de tomar este leme: editem em português!!
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Romance
Albin Michel Jeunesse, 2013
Blexbolex
isbn 9782226242341
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