O livro é para quem por aqui passa

Já aqui falei desta belíssima tradição de nuestros hermanos e este ano vamos celebrá-la aqui, mais uma vez: uma rosa por um livro.
Para receberem um livro, o que terão de fazer é seguir de algum modo esta prateleira (o blogue através do email, o instagram, o pinterest ou o facebook) e depois deixarem aqui um comentário com o vosso nome e a forma como escolheram seguir. Assim ajudam-me a perceber como vos dá mais jeito visitar esta prateleira. Essa será a vossa rosa.
Depois, dia 30, anuncio o vencedor do sorteio e envio o livro. Este será o livro de alguém.

Há frutos que são da época. Não há estufa nem antípodas que nos valham. Por mim, tento fazer de quase todos os frutos, frutos da época. Detesto comer ameixas do Perú em janeiro e insisto em esperar pelo final de abril pelos morangos. Reduzimos o tomate no inverno e abusamos no verão. É muito bom podermos ter hoje acesso a mangas do Brasil, claro, mas ainda assim tento manter um bocadinho o ciclo e anunciar as nêsperas que trouxe como primeiro sinal de que o verão já não vem assim tão longe.
 
O princípio desta história é sobre isso mesmo, acho, de como tudo era tão simples e de como às vezes havia e outras vezes não. Não havia problemas de escassez e também ninguém se escandalizava por não ter morangos em dezembro.
Depois o conto fala do desejo e da espera; e quem espera desespera.
 
O urso quer mesmo um figo e nasce nele o desejo. Passa privações, fome, sede, sono. Mas os figos são para quem passa, diz-lhe a raposa e, bem, ainda não é desta.

O urso quer mesmo um figo e nele nasce o sentido de propriedade. O urso não espeta um ramo como ato primordial arquitetónico, mas constrói um muro em redor da figueira: isto é meu. Mas os melros vêm de cima e os figos são para quem passa, dizem-lhe.

O urso quer mesmo um figo e nele nasce o sentido de defesa. O urso não tem asas, mas sobe à árvore e lá fica empoleirado para defender o seu tesouro. E quando, depois de tanto esperar, o figo está pronto, a surpresa vem de dentro!

O fim desta história é sobre a partilha e de como às vezes é preciso agir e outras esperar. Uma fábula para nos ensinar o valor da espera, da partilha e da consciência da passagem por este planeta. Com o mestre Bernardo a dar mais uma lição de simplicidade, desta vez com tesouradas vivíssimas.
Não é por acaso que o dia da Terra e o dia do Livro andam assim tão juntinhos.
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Os figos são para quem passa
Planeta Tangerina, 2016
João Gomes de Abreu texto, Bernardo P. Carvalho ilustração 
isbn 978989814570