Por estes dias, encontrei aqui A história de Ferdinando numa lista de livros políticos. Lembro-me desde sempre desta história, numa mínima edição que havia em casa dos meus pais feita a partir dos desenhos da Disney.
Mal sabia eu que os desenhos originais de 1936 tinham esta qualidade, embora o filme — que começa com as ilustrações da capa do livro — tenha ganho o óscar para melhor curta de animação. (A propósito disso, em julho deste ano, sai nos EUA uma nova versão em filme desta história.)
Desde pequena que as histórias sobre liberdade fazem mossa em mim; miúda sossegada e pacificadora, lembro-me de me transformar numa fúria perante a injustiça da privação da liberdade.
Esta história foi escrita nos EUA mas passa-se em Espanha onde, por esses anos, se travava uma terrível guerra civil.
Quando a lia em miúda, não sabia da guerra, nem pensava nas touradas, nem sabia que tinha sido proibida em Espanha. Não sabia que era, supostamente, a história favorita de Gandhi e que era aconselhada na Índia e na Rússia, nem sabia que tinha sido queimada por Hitler. Achava só graça a este touro cheio de personalidade.
Agora mãe, revejo-me mais na mãe-vaca, que olha preocupadamente o seu filho, que não faz como os outros, não é como os outros.
Ele precisa desse tempo — diziam-me as professoras do B quando me
mostrava inquieta por ele querer levar todos os dias um livro para a
escola, mesmo antes de ler —, depois vai brincar com os outros, não se
preocupe.
É um equilíbrio difícil, este de mãe, no balancear entre o que devemos forçar e o que devemos deixar ser.
Lembro-me de quando o B começou a jogar futebol com tios e primos e de como, de repente, se distraía totalmente do jogo para inspecionar uma flor no meio do relvado. Entre isto e o modo como submergia nos livros, julguei-o perdido para sempre no desporto e num grupo de amigos.
Desde sempre que observo, de longe, como o T se apaga discretamente num grupo. Fico sempre com pena que os outros possam não chegar a encontrar a sua imensa riqueza.
Torço pelo R na luta sua luta de crescer para conseguir fazer tudo como os mais velhos — os irmãos e todos os outros que nasceram antes de dezembro.
E afinal: temos um miúdo desportista (que continua a gostar de inspecionar o mundo) e com amigos (embora continue a submergir nos livros), um outro que é reconhecido como alguém mesmo muito especial e um minorca cheio de garra que chega sempre onde os outros chegam, a seu tempo.
A mãe do Ferdinando é muito compreensiva, diz o autor, e deixa-o "estar assim e ser feliz". Dizia-me um destes dias uma mãe de miúdos mais velhos que difícil-difícil era estar ali ao lado deles, a vê-los sofrer ou ter de tomar decisões e já não podermos ser nós a apanhar ou a decidir por eles. Por agora estou também a gostar desta fase em que os posso ajudar a ver as coisas e depois passar-lhes a liberdade e a responsabilidade da decisão. É que a liberdade custa, mas é absolutamente essencial.
*O giveaway ainda decorre até dia 30!
** Kalandraka, não nos querem trazer o outro?
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A história de Ferdinando
Kalandraka, 2016 (primeira edição, EUA 1936)
Munro Leaf texto, Robert Lawson ilustrações
isbn 9799897490576
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