Hoje puxei da prateleira as minhas Histórias da Arte, a velhinha e a menos velhinha. Andei em busca de beldades desnudas.
Queria teimosamente recorrer à ideia de biblioteca como fonte em vez de ir diretamente à rede. Acabei a recolher imagens virtuais.
Não as imprimi como pensei de imediato porque me lembrei do ambiente, do papel, das pobres árvores etc, mas principalmente porque me pareceu que montar uma exposição de mulheres nuas em casa seria um bocadinho demais.
Mas não, hoje não vem à prateleira um livro 18+ (essa etiqueta ainda não criei). Ou talvez venha. Tudo estará, digo eu, nos olhos de quem vê o livro.
É que o livro que hoje vou mostrar aos miúdos e que aqui trago à montra, tem várias mulheres mas todas elas vestidinhas; ou quase.
O livro é muitíssimo cómico mas levanta várias questões sérias e que podem dar debates bem interessantes.
Mas hoje não estou virada para debates (a condição feminina, o voyeurismo, o respeito pelo corpo, o respeito pela arte, o lugar do corpo na vida, o corpo enquanto arte, ... ), interessa-me só mostrar-lhes como foi divertida a ideia do autor de pegar em obras da pintura universal e inventar-lhes uma roupa. E a partir dessa desculpa, mostrar-lhe as maravilhas da pintura de Gauguin, de Tiziano ou de Modigliani. O facto das mulheres estarem nuas ou não diluir-se-á no processo, eventualmente. Pelo menos poderão entender, sem grandes conversas, que há nus e nus. A idade da inocência.
A ideia não é original; na própria apresentação do livro, a Serrote explica que o livro é uma homenagem a Daniele da Volterra, pintor maneirista essencialmente conhecido e odiado por ter sido contratado para vestir alguns nus de Miguel Ângelo espalhados pela Capela Sistina.
Ao procurar as imagens das meninas nuas originais, voltei a encontrar várias em que também existe a versão menina vestida. Algumas delas feitas pelo próprio autor, como esta de Goya, que considerou que a dupla era bem mais provocadora do que apenas uma nuinha.
O livro é também uma magnífica homenagem à esferográfica. Imagino (e oiço até) várias canetas Bic a riscarem furiosamente o papel enquanto põem decentes,
ou não, as meninas.
Não sei qual vai ser a reação deles. Mas imagino que possa ser qualquer coisa deste género: um vai querer saber como é que pintaram e despintaram o teto da Capela Sistina, outro virar a cara muito depressa como faz quando há um beijo num filme — desenhos animados ou não —, e outro vai pedir-me umas Bic para experimentar. Mas não pensem que sei qual deles vai fazer o quê. O que sei é que os livros de Arte vão ficar por ali à mão de semear, que é uma expressão belíssima para ilustrar o que pode um livro,
deixado como que por acaso aberto por ali, em cima da mesa.
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Not so nude - Nus vestidos
Serrote, 2016
Neo Nuvens
isbn 9789899574588
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