Ao jantar, conversamos. Temos a sorte — e também fazemos por isso — de nos sentarmos todos à mesa, pelas sete e quarenta e cinco, de guardanapo de pano no colo ou no colarinho.
Além de nós, estão também à mesa um porco e um porco-espinho, uma adaptação duma ideia que trouxe do Pinterest, para presentear no fim de cada jantar o sem-maneiras e o pastelão. Na semana em que pus os bichos à mesa (e em que me explicaram que o animal mais lento não é a tartaruga mas o porco-espinho) não houve pastelões nem sem-maneiras, ninguém queria os troféus; mas agora quase há concorrência para ver quem é que é quem.
Saiu-me o tiro pela culatra. Enfim, alguma coisa lá lhes há de ficar.
Mas então conversamos. Normalmente sobre futebol e NBA, pois, mas também sobre outros assuntos prosaicos ou poéticos ou só difíceis: a escola e a planificação do cilindro, as nuvens e os pássaros, a política e o ambiente. A sério, não há tempo que iguale o tempo de conversa duma refeição. É que não é que as pessoas se andem por aí a sentar todas à volta duma mesa para conversar sobre "assuntos". Como verdadeiros portugueses, sentamos-nos à volta da mesa para conversar.
Nos últimos tempos, tenho falado com várias pessoas, também ligadas à educação, sobre a importância da coexistência de várias áreas na escola: música, expressão plástica, dramática, ginástica, outras línguas, filosofia. Sim, aprender a pensar sobre as coisas que não são contas ou factos históricos ou biológicos é tão importante quanto perceber como funciona o coração, o que fez afinal D. Dinis ou fazer um trabalho de grupo sobre o James Watt.
E para além disto, é fundamental saber bem ler, escrever e entender a magia dos números. Dizia uma caríssima Diretora que se espera hoje isto da escola, e que é muito mas que de facto se deve esperar isto. A formação integral tem de ser integral e se passam grande parte do dia na escola, a escola tem de ser vida.
E a propósito da filosofia e das conversas à mesa, a propósito de pensar e de verbalizar esse pensamento, lembrei-me que nunca aqui pus os livros de Filosofia para crianças. Não os vejo como livros de leitura (embora os mais velhos já os tenham lido) mas como livros de discussão, de conversa.
Na escola do R, como em outras, há A Roda; em determinada altura do dia, juntam-se em roda no chão e conversam sobre vários assuntos. (Afinal sempre há quem se sente à volta para falar de "assuntos".) E que bom haver espaço para isso. Porque há afinal coisas que parecem óbvias e não são, principalmente se ouvirmos outra pessoas a discorrer sobre elas.
A vida não é feita de matérias compartimentadas e aulas de 45 minutos, embora às vezes pareça. Há outros modelos de escola que tentam ir por outras vias mais globais, mas deixam outras lacunas. O equilíbrio é difícil, como em tudo na vida.
Em compartimentos ou de forma espontânea, em 45 minutos ou quando for, era bom que os miúdos pensassem, fossem ensinados, treinados, a pensar, a questionar, a ver o outro lado da coisa.
A criatividade vem também desta capacidade de interrogar e de organizar o pensamento porque, já dizia o outro, "De boas ideias está o inferno cheio."
Há uns anos falei aqui duma outra coleção que parte também da questão do pensamento, da interrogação com textos deste certeiro senhor Oscar Brenifier, autor desta coleção. Também valem a pena.
Esta está organizada por temas e, dentro desses temas, em
separadores, como o famoso dossiê para as disciplinas. E cada pergunta é acompanhada por uma série de respostas com o fatídico Sim, mas...
Temos O que são
os sentimentos? ilustrado pelo provocador Serge Bloch e O que é a
felicidade? com desenhos de Catherine Meurisse . Há outros e muitas vezes estão em saldo nas livrarias, como quase
todos os livros que dão trabalho.
..................................................
O que são os sentimentos?
Dinalivro, 2005
Oscar Brenifier texto, Serge Bloch ilustração
isbn 9799725765425
O que é a felicidade?
Dinalivro, 2008
Oscar Brenifier texto, Catherine Meurisse ilustração
isbn 9799725764992
quero comprar , como faço?
ResponderEliminar