Em janeiro vou a La Tourette! Desde que vi pela primeira vez as imagens deste convento projetadas nas paredes dum outro convento, que quero lá ir.
Já aqui falei de passeios a subúrbios e a lugares para lá de subúrbios para poder ter a experiência de lugares incríveis que antes só tinha visto em livros. A Casa Malaparte, por ser tão inacessível, nunca esteve realmente na minha agenda. Mas A casa estranha do senhor chamado Malaparte é permeável aos sonhos. Aos nossos sonhos. Quem sabe um dia?
Provavelmente vi-a primeiro n'O Desprezo, de Godard, e só depois na aula de Teoria da Arquitetura, de Michel Toussaint, com aquela banda sonora tão característica dos slides a passar misturados com a sua voz, na penumbra. E não é de estranhar: por um lado, com o curso de arquitetura veio em paralelo o curso da Cinemateca; por outro, Malaparte mandou embora o arquiteto e tomou conta desta obra e digamos que essa não é uma história que interesse contar a aspirantes a arquitetos.
Este é um livro sobre uma grande casa que é também uma grande
história: imaginamos os vários génios a chocarem naquela paisagem
magnífica: o escritor e o arquiteto, o realizador e a atriz, o escritor e
as palavras, o mar e a casa, o sol e o vento, o azul e o vermelho.
Imaginamos
as zangas, os risos, as chegadas, as despedidas, o som das máquinas da obra, o som da
máquina de escrever. O som do mar, o som do silêncio, o som do azul e do
vermelho.
Malaparte teria mau feitio, isso sabemos. E o arquiteto?
Enquanto
desenho a minha casa agora no lugar de cliente, misturo-me com estas
personagens casmurras, o cliente e o arquiteto, o realizador e a atriz, o
escritor e as palavras, como esta casa se mistura com a rocha e com o mar.
As ilustrações dest'A casa do senhor Malaparte não são nada arquitetónicas, digamos assim. São pintura construída, desconstruída, borrada e isso é tão bom de ver num livro de arquitetura. Não é um livro infantil? Pois, pode ser.
Mas também é uma espécie de Memória Descritiva da Casa Malaparte, a casa do escritor que escolheu para si o nome "parte má", mas que escolheu para seu refúgio uma parte muito boa deste nosso mundo.
Fico só com pena que não haja uma espécie de ficha técnica com as imagens da casa verdadeira ali no final. Os desenhos "pouco arquitetónicos" mostram uma casa mas não a casa e esta coleção de Casas com nome de quem agora tanto se espera pedia isso, acho eu. Não vão os miúdos pensar que esta casa de poesia pertence só ao reino dos sonhos.
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A casa do senhor Malaparte
Circo de Ideias, 2015
Joana Couceiro texto, Mariana Rio ilustrações
isbn 9799899918405
Beautiful!:)
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