Sentados àespera do autocarro para passearem no andar de cima, ouviram a historia enquanto gritavam em desespero, Burros, burros! No
fim do conto lutaram para decidir quem era quem — Sam, Dave e o cão — e depois de ninguém
querer ser o cão por razões óbvias, o T lácedeu, porque afinal, concluímos, o cão é o único que
percebe ou pressente que se passa alguma coisa de importante. E ainda por cima, no final, ganha
um belíssimo osso.
Sam e Dave decidem ir escavar um buraco a ver se encontram alguma coisa espetacular. Com o truque da terra em corte (que jáconhecemos daqui), conseguimos ver o que eles não vêem e queremos desesperadamente avisá-los, vira, vira ou não vires, não vires; éque os miúdos viram sempre na altura errada e falham sempre as coisas espetaculares que estão debaixo da terra — cada vez maiores, brutais, magníficos diamantes.
O B anda fascinado por pedras preciosas, jóias, minerais, brilhos, dourados, prateados. Arrastou- nos para a zona-verde-piso não-sei-quantos do NHM, quando pensei que os dinossáurios chegavam, para ver um monte de pedras. Não são pedras, são rochas. Não são só rochas, são minerais. Certo, certo.
Talvez isto seja afinal minha culpa, eu que trago pedras de todo o lado para casa. No meio da minha coleção, encontro de vez enquanto algumas que não fui eu que trouxe, como as encontro nos bolsos dos calções que vão para lavar. Filho de peixe.
E explicar-lhes que nenhum diamante gigantesco étão espetacular quanto a aventura do Sam e do Dave? Uma metáfora para a vida, digo eu que ando sempre a pensar na vida. Há aquela frase sábia que diz que a felicidade não é chegar onde se quer mas antes o caminho que se faz até lá. Acho que eles percebem, a sério, mas continuam a gostar mais de gritar Burros! quando passam a página e, para nosso desespero, lávão os miúdos outra vez na direção errada, deixando para trás mais uma preciosidade.
Já o cão estásempre a olhar para o mesmo que nós. Chamem-lhe faro ou sexto sentido. Ou materialismo. No seu silêncio animalesco (de traços tão característicos de outros da mesma família), éele quem acaba por arranjar o desfecho para a história e para a aventura, fazendo acontecer algo bem mais extraordinário que encontrar um mega-diamante:
o B diz que deram a Volta ao Mundo, o T que estavam no Presente e chegaram ao Futuro e o R continua a gritar Burros, burros!!
A história, porque éuma boa história, permite de facto múltiplas leituras. Uma amiga disse-me que mostra como muitas vezes não levamos os assuntos a fundo; alguém falou dum sonho como a queda da Alice, outro ficou baralhado com a chegada a casa e por fim uma atalhou que é mesmo um livro muito filosófico.
.............................................................
Sam & Dave dig a hole
Candlewick, 2014
Marc Barnett texto, John Klassen ilustração
isbn 9780763662295
Sam e Dave decidem ir escavar um buraco a ver se encontram alguma coisa espetacular. Com o truque da terra em corte (que jáconhecemos daqui), conseguimos ver o que eles não vêem e queremos desesperadamente avisá-los, vira, vira ou não vires, não vires; éque os miúdos viram sempre na altura errada e falham sempre as coisas espetaculares que estão debaixo da terra — cada vez maiores, brutais, magníficos diamantes.
O B anda fascinado por pedras preciosas, jóias, minerais, brilhos, dourados, prateados. Arrastou- nos para a zona-verde-piso não-sei-quantos do NHM, quando pensei que os dinossáurios chegavam, para ver um monte de pedras. Não são pedras, são rochas. Não são só rochas, são minerais. Certo, certo.
Talvez isto seja afinal minha culpa, eu que trago pedras de todo o lado para casa. No meio da minha coleção, encontro de vez enquanto algumas que não fui eu que trouxe, como as encontro nos bolsos dos calções que vão para lavar. Filho de peixe.
E explicar-lhes que nenhum diamante gigantesco étão espetacular quanto a aventura do Sam e do Dave? Uma metáfora para a vida, digo eu que ando sempre a pensar na vida. Há aquela frase sábia que diz que a felicidade não é chegar onde se quer mas antes o caminho que se faz até lá. Acho que eles percebem, a sério, mas continuam a gostar mais de gritar Burros! quando passam a página e, para nosso desespero, lávão os miúdos outra vez na direção errada, deixando para trás mais uma preciosidade.
Já o cão estásempre a olhar para o mesmo que nós. Chamem-lhe faro ou sexto sentido. Ou materialismo. No seu silêncio animalesco (de traços tão característicos de outros da mesma família), éele quem acaba por arranjar o desfecho para a história e para a aventura, fazendo acontecer algo bem mais extraordinário que encontrar um mega-diamante:
o B diz que deram a Volta ao Mundo, o T que estavam no Presente e chegaram ao Futuro e o R continua a gritar Burros, burros!!
A história, porque éuma boa história, permite de facto múltiplas leituras. Uma amiga disse-me que mostra como muitas vezes não levamos os assuntos a fundo; alguém falou dum sonho como a queda da Alice, outro ficou baralhado com a chegada a casa e por fim uma atalhou que é mesmo um livro muito filosófico.
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Sam & Dave dig a hole
Candlewick, 2014
Marc Barnett texto, John Klassen ilustração
isbn 9780763662295
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