Joelle Jolivet não só já nos habituou a grandes formatos, como já nos habituou a grandes livros.
Desta vez, com a ajuda duma escritora, leva-nos a passear por Paris, a preto e branco.
Estivemos lá ao vivo e a cores, de maneira que agora desdobrar no chão estes tapetes de ruas, levam-nos de volta a dias intensos numa grande senhora cidade.
Viajar em criança é toda uma outra coisa. A escala, aquilo a que damos atenção e importância, são grandes pequenas coisas ou pequenas grandes coisas.
Saber pôr o bilhete na ranhura do metro, tirá-lo, rodar o torniquete e empurrar a porta
vale tanto ou mais que ter na ponta da língua uma bela tabuada.
Aprender novas palavras com a melhor pronúncia, é feito sem qualquer esforço nem nenhum manual por perto.
Ver o mundo com outros olhos, grandes olhos fora de escala, é simples
porque há uma predisposição para o novo, para o diferente.
Saber nomear grandes obras é de repente
ter saboreado mesmo essas obras.
Fazer de turista à séria, comme il faut!
A primeira viagem de que tenho memória é de ir aos EUA. E o que me lembro é: das ruas ficarem escuras muito cedo em NY porque os arranha-céus tapavam o sol; de comer ovos estrelados ao pequeno almoço e de achar maravilhoso que os meus primos estivessem, à mesma hora, a jantar quem sabe também ovos estrelados; de pisar muitas, mesmo muitas folhas caídas em frente à Casa Branca; de subir ao Empire State Building.
Também me lembro de me terem roubado uma mala preta igualzinha à da minha mãe, mas não vamos falar disso.
Aos 4 anos subir nos elevadores do ESB e ver as ruas em planta lá em baixo, qual pintura mondriânica, talvez tenha pesado, pesou com certeza, secretamente, na escolha da minha Arquitetura.
O que é que eles gostaram mais em Paris? Da Torre Eiffel, claro, e de terem subido ao altíssimo 2º andar. Estivemos aqui, diz ele, com ar(co) de triunfo na voz.
É sempre e ainda uma conquista tão simbólica, subir à torre mais alta da cidade.
Se a Vitória é de Samothrace ou de Setúbal, como dizia o S é perfeitamente indiferente; é apenas a Vitória. Como vitória é conseguir lutar contra os cotovelos de espanhóis e japoneses e chegar à frente para fotografar a Mona Lisa;
e depois perder o cartão de memória da máquina talvez ali ao fundo, debaixo do sarcófago egípcio. As fotografias foram-se, deixa lá B, a memória duma grande viagem a uma grande cidade, essa ficará gravada ao vivo e a cores.
E é por isso que já disse ao R que pode pintar o livro, porque não?
Está mesmo a pedi-las.
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Ramona Badescu texto, Joelle Jolivet ilustrações
Les grandes personnes, 2014
isbn 9782361933470
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