A B esteve cá em casa e deixou um livro.
O B apanhou-o logo e domingo à noite veio dizer-me que o dos rapazes era muito melhor. Se calhar isso é porque és rapaz, disse eu. Não, Mãe, acho que este é mesmo melhor. Ou então este, concedeu. Deu em critico o rapaz!... E eu dei conta que nunca aqui trouxe o magnífico Livro perigoso para rapazes. Um dia destes.
Então fui espreitar o livro e ri-me a perder: a B encheu-o de post-it nas páginas que lhe interessavam!
Quem sabe não poderá ser este um retrato de alguém, os sublinhados que deixou nos livros, os cantos das páginas que dobrou, os marcadores que lá ficaram. Mais do que a nossa biblioteca, a forma como nos apropriamos dos livros, os transformamos, já dirá, com certeza, muito sobre nós.
Numa belíssima exposição, no seguimento desta mas em Paris, uma das peças é este livro: a coleção — a catalogação—, dos objetos encontrados dentro dos livros da Hannah Arendt. Recibos de lavandaria, manuscritos, bilhetes... Não teremos o retrato de Hannah? Um retrato?
Estes post-it não serão (só) o retrato da B, aos (quase) 12 anos, mas mostram um bocadinho o que a preocupa, o que deseja, o que gosta. E mesmo só com a inicial, de repente pareceu-me que seria uma enorme inconfidência mostrá-los aqui.
De modo que este postal acaba antes do fim, que seria uma espécie de poema feito com os títulos dos artigos que esta menina marcou como importantes.
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O livro das raparigas — como ser a melhor em tudo
Juliana Foster texto, Amanda Enright ilustrações
Texto Editores, 2007
isbn 9789724735030
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