Harris Burdick é um autor mistério que um dia apareceu na editora de Peter Wenders com um conjunto de 14 ilustrações, cada uma delas com um título e uma legenda. Vinha saber do interesse da editora na produção daquele livro. Tinha muitos outros desenhos, disse, mas trazia apenas aqueles para sondar do interesse da editora. O editor gostou imenso das ilustrações e pediu a Harris que voltasse no dia seguinte com as histórias. Harry deixou os desenhos e nunca mais voltou.
Wenders tentou encontrá-lo nos dias seguintes, e nos meses e anos que se seguiram, mas não mais encontrou rasto do autor.
Um dia, Chris Van Allsburg, de visita a casa do editor, agora reformado, vê os desenhos de Harris pela primeira vez e fica maravilhado.
Peter conta-lhe a história e mostra-lhe então um caixote cheio de contos feitos pelos seus filhos (e amigos dos filhos) que, ao longo dos anos, se divertiram a inventar as histórias para estes fabulosos desenhos.
Em 84, Van Alsburg decide editá-los pela primeira vez.
E agora, caro leitor, chegamos a um ponto em que há que fazer uma escolha: ou vive com esta história enigmática, misteriosa e feliz, ou quer ir saber o que a seguir lhe desvelo.
Tem a certeza?
Ok.
Então o que se passa é que não resisiti a ir googlar Harris Burdick: a história era demasiado misteriosa e perfeita para ficar por ali.
E pois, é o que é, uma história. Apenas isso?
Chris Van Alsburg, no seu estilo inconfundível, inventou Harris, fez os desenhos, os títulos, as legendas, inventou o editor, a visita à casa do editor, o caixote, pois, tudo... e editou o livro.
Depois disso, já muitos deram vida a estes contos que nunca existiram (e agora sim, existem) como Stephen King, que escreveu "The House on Maple Street";
em 93 houve até a edição dum The cronichles of Harris Burdick, com contos de vários outros autores de renome.
Ontem mostrei o livro no fim dum jantar que estava a ser demasiado demorado para a minha paciência. E de repente as bocas abriam-se mais — não para comer —, de espanto: o B queria saber desenhar como o Harris, o T fazia tãtãtãtã cada vez que eu acabava de traduzir uma das legendas e passava para a página seguinte, o R exigia ver mais de perto.
O mais velho, nitidamente mais rápido que eu, perguntou logo se era verdade. Conseguimos desviar assunto.
Depois acabarei por lhes revelar a invenção de Chris Van Allsburg; é que tenciono manter o mistério por mais algum tempo. Afinal, melhor que um mistério, só a beleza da possibilidade de criar um mistério.
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The Mysteries of Harris Burdick
Andersen, 2011
(1ª ed. Houghton Mifflin,1984)
Chris Van Allsburg
isbn 9781849392792
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