Estamos numa nova fase.
O B devora livros a uma velocidade avassaladora. Apodera-se dos jornais sempre que pode, o que nem sempre é fácil de gerir, e parece-me que está a tentar decorar os Astérix que já tem (é a única explicação que encontro para o número de vezes que os vai buscar à prateleira e os deixa por ali para consulta permanente).
Escolher um livro para esta fase é toda uma outra coisa e uma coisa bem mais difícil - são livros que já não se lêem em dois minutos, por isso poderemos estar a trazer livros "às escuras". O que às vezes pode não ser mau.
O "Esqueci-me como se chama" trouxemos sem ler nem folhear, só porque é o novo livro da Bruaá.
Noutros tempos, as pessoas contavam com os livreiros para lhes fazer a seleção do que deviam levar para as férias; sendo esses livreiros já uma raridade, temos de poder contar com as editoras. Algumas editoras.
Não conhecia o Gonçalo Viana (não costumo passar pelos jornais económicos e parece que anda muito por lá), por isso o meu olhar distraído achou graça a estas ilustrações com o seu ar meio russo.
Pensei que tinha sido uma escolha do ilustrador para este livro específico. Mas depois de ter ido aprender mais qualquer coisa sobre ele, parece-me mais que o lilustrador foi escolhido pelo editor para este livro exatamente porque as suas ilustrações têm sempre este ar meio russo.
O B é mais dado à palavra que à imagem por isso não o emociona tanto quanto a mim este índice:
prefere a primeira história e eu percebo porquê.
Revimos, recentemente, um episódio da Pantera cor-de-rosa especialmente bom: Sherlock Pink. A loucura e a liberdade na construção das imagens é brutal. É como um sonho dentro dum sonho dentro dum sonho, onde então tudo é possível. Tudo mesmo. Essas imagens fizeram-me lembrar estas palavras: as voltas e reviravoltas das narrativas são como as escadas echerianas da pantera
ou a luz do foco que se transforma em bola para chutar, depois em bolha que a come e por fim explode como uma bomba de pólvora.
Eu, que ainda me passeio pela Anna Karenina, gostei particularmente de trazer agora para a nossa prateleira-um-bocadinho-menos-de-baixo esta extraordinária peça russa.
E esta prateleira começa a estar mais recheada, bem recheada.
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Esqueci-me como se chama
Bruaá, 2011
textos Daniil Harms, ilustrações Gonçalo Viana
isbn 9789898166135
primeiro visto aqui
comprado aqui
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