Antes esperávamos cartas. Agora desligamos notificações.
E eu sou das que as desligo e percebo quem as desliga. Mas é um retrato um pouco triste do nosso tempo, este fecho à comunicação, como reação de defesa ao excesso deste tipo de comunicação intrusiva e um pouco enviesada através da qual nos relacionamos hoje.
Este No momento perfeito, conta a história de uma carta cujo conteúdo só conhecemos no final do livro. Temos de esperar até ao fim para saber o que fez o esquilo desandar a toda a pressa.
A propósito de um convite para um programa sobre Contos de Natal da Sociedade Civil na RTP2, fugi aos tradicionais contos natalícios para apresentar um par sobre a "espera". Afinal, Advento é o tempo de espera por uma chegada.
Falei a toda a pressa sobre a nossa estranha relação com o tempo, a pressa, a dificuldade em esperar. Meio ridículo, mas enfim. Um já aqui está desde 2015, o outro é este que hoje mostro.
O coração do esquilo sobressalta-se com as notícias que recebe e, atabalhoado, sai de casa a correr. Só que no caminho é intercetado por vários amigos que precisam da sua ajuda. E, apesar de saber exatamente qual é o seu objetivo e de ter pressa para lá chegar, o esquilo pára sempre, atento a quem dele precisa. Naquele momento e não noutro, em que, com certeza, lhe causaria menos mossa parar.
É claro que com isto se atrasa. Ou assim parece. Afinal, o suposto atraso provocado pela atenção não programada que deu aos seus amigos, faz com que chegue ao seu destino momento perfeito.
E se a imensa alegria que recebeu o fez sair a toda a pressa, esquecendo o presente que queria ter trazido, foi exatamente o tempo que quis gastar com os seus amigos que criou o presente para oferecer à chegada.
Por ter querido estar presente e se ter feito presente no caminho, ofereceu um presente à chegada:
há lá melhor história de Natal?
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Nuvem de letras, 2022
Susanna Isern texto, Marco Somà ilustração
isbn 9789897847271