Há livros que gosto de ver e ler, ou que sei e comprovo que funcionam junto dos miúdos, e depois há aqueles que gostaría de ter feito. Sou exigente e selecta por isso estes últimos não são assim tantos. Mas este é, sem dúvida, um desses.
Não é em vão que emprego o título deste post; o Trocoscópio é a tradução de uma ideia muito simples e ao mesmo tempo muitíssimo arrojada e, por isso, genial.
A ideia é partir de uma construção gráfica com figuras (142) mais ou menos geométricas, de uma cor só (amarelo, verde, encarnado, azul, rosa, laranja, roxo) mas não sólida, (o que permite que se percebam sobreposições na montagem) e depois, fazer saltar partes dessa construção de uma página para a outra conseguindo, com isto, não só fazer uma nova construção na página ao lado, como criar uma nova na anterior pela alteração brutal que a falta do mais pequeno elemento numa página faz ao todo do conjunto. Parece complicado mas não é nada. Ora vejam:
[1ª]
[2ª]
[alguns saltos mais tarde]
No verão fiz uma workshop com o Bernardo Carvalho (que aconselho vivamente) em que ele disse, a certa altura, que não pensava muito nas crianças quando fazia um livro.
Não estava a fazer charme, estava mesmo a dizer. Nem sei se lhe chame livro, a este Trocoscópio; parece-me mais um jogo e não tenho a certeza se é muito infantil.
Parece-me que é daqueles objectos que se tem de ver muitas vezes e, de todas essas vezes, se verão coisas novas ou, pelo menos, de outra maneira.
De facto, e olhando com atenção, muitos livros que o Bernardo ilustra são objectos sem idade, tremendamente visuais e, ao mesmo tempo, muito cerebrais, no sentido em há uma lógica, ou um ritmo, muito precisos. No fundo, são livros em que a narrativa é tratada de uma forma muito sintética, parece-me, mesmo quando acompanham textos de facto e não são só narrativas criadas por imagens. Mas o que me parece também, é que esse sintetismo funciona como um trampolim e não como um redutor para a imaginação.
Já o mostrei aos miúdos que viram a fábrica, a escavadora, a chaminé - que eu vi também - ao que, sem problema nenhum, acrescentaram chupa-chupas, foguetões e outras coisas que gostam e que o meu sentido de coerência (ou de vistas curtas...) já não me deixou ver; depois, viram nascer na página ao lado o passarinho, o elefante e um sem número de animais inventados que o Bernardo desenhou apenas o suficiente para que os outros pudessem, livremente, acabar de desenhar.
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Trocoscópio
Planeta Tangerina, 2010
Bernardo Carvalho
isbn 9789898145253
primeiro visto aqui
comprado aqui
Deve ser muito bom para um autor/ilustrador ver a sua obra assim tão bem compreendida!
ResponderEliminaracho que o bernardo não precisa de pensar nas crianças: ele é uma criança e por isso desenha assim...com esta criaividade, esta luminosidade, esta magia de cores e formas!
ResponderEliminartenho que encontrar. Sou fã tanto do Bernardo como da Planeta Tangerina. e este livro parece-me realmente genial. obrigada por mo dar a conhecer.
ResponderEliminarIncrível
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